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Instituto do Coração (InCor) - Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - SP - Brasil
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Envelhecimento

A vida é a reciclagem contínua. Tudo que forma nosso corpo foi produzido em estrelas, fez parte de outras estruturas, de outros seres vivos. Mas o ente biológico tem um fator a mais, a informação codificada em nossos genes. Embora a informação dentro das células possa ser copiada, por exemplo, a cada 60 dias, e poderíamos imaginar um processo quase infinito de substituição e reciclagem, o DNA também se deteriora e a qualidade da informação, a qualidade das proteínas então produzidas, cai.

Na prática, o envelhecimento pode ser entendido como uma queda de rendimento, de performance celular. Se medirmos a taxa de metabolismo, ou seja, a capacidade de queimar energia, veremos que a partir dos 25 - 30 anos começamos a queimar menos energia para a mesma atividade. Ao longo dos nossos anos de vida, nosso metabolismo continua a cair.

Por outro lado, nossa fome é a mesma até 70-80 anos de idade. Ocorre que até recentemente não envelhecíamos, a expectativa de vida era mais baixa. Dados do Brasil, por exemplo, mostram que a expectativa de vida na década de 40 anos do século XX era 42 anos. Ou seja, nosso cérebro nunca precisou "reconhecer" se a fome que tínhamos correspondia a uma necessidade de energia. No reino animal, na verdade, come-se tudo o que pode, acumula o excedente como gordura, que será consumido nos dias em que não há comida.

Há hipóteses que relacionam o nosso domínio pela técnica do fogo para cozer alimentos, facilitando a digestão, a um aumento da quantidade de calorias que os humanos consumiam, o que por sua vez possibilitou o desenvolvimento maior do nosso cérebro. Um animal herbívoro ou carnívoro, ao se alimentar, necessita fazer a digestão do alimento cru e isto limita a quantidade diária de calorias.

Porém, tudo mudou com a sociedade tecnológica e industrial. A produção de alimentos se elevou de tal forma que a fome humana foi extensivamente reduzida em poucas décadas. Mas o cérebro não evoluiu, não assimilou a nova realidade de dizer "NÃO" para a comida. Boa parte das doenças são justamente pelo excesso de alimentos, de calorias, de resíduos do metabolismo que nossos corpos não conseguem eliminar do organismo.

Agora investimos em tratamentos para enganar o cérebro para não comermos, ou para limitar o tamanho do estômago para estabelecer um limite. Todo o instinto de sobrevivência que nos trouxe até aqui agora nos ameaça.

O envelhecimento também se manifesta nos músculos e ossos. A partir dos 40 anos, a resistência do sistema esquelético começa a diminuir e o sistema de reparação das microlesões se torna mais lento. A partir dos 50 anos começamos a perder massa muscular. Com a intensificação da não reparação de pequenas lesões, elas se tornam GRANDES lesões - artrose, tendinite, bursite, etc. Os discos intervertebrais se deslocam, perdem suas características elásticas - protrusões e hérnias discais. As próprias artérias vão perdendo elasticidade, ocorre a deposição de gordura, de cálcio - aterosclerose, hipertensão arterial. Um estudo sueco mostrou que aos 80 anos, 100% dos pacientes estudados tinham placas de gorduras nos vasos sanguíneos, independente se eram vegetarianos, se faziam atividade física ou não. Se no Brasil, entre 20 a 30 anos cerca de 25% da população tem hipertensão arterial, acima dos 60 anos a prevalência é acima dos 60%.

Da mesma forma que a hipertensão arterial, o diabetes, hipercolesterolemia, câncer, síndromes demenciais aumentam com o envelhecimento.

Alguns pesquisadores observaram que possivelmente tumores possam se duplicar quase que indefinidamente sem perder suas características - ou seja, não envelhecem. Dessa forma, o conceito atual é de envelhecer controlando os processos, minimizando as perdas, de forma a chegar o mais longe possível e com funcionalidade.